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O futebol é pródigo em discussões vazias. Até podem ser quentes em muitos aspetos, cheias de argumentos, mas depois o conteúdo acaba por ser desprovido de qualquer sumo. Falar sobre arbitragens e do que daí resulta, sejam penáltis bem ou mal assinalados, é uma dessas discussões vazias que até podem entreter e gerar confrontos quentes, mas se forem feitas por adeptos que gostam de vestir a camisola acabam por não conduzir a lado nenhum. É como dizer que uma determinada equipa tem mais qualidade do que a outra, que tem melhores jogadores, quando os intervenientes falam com o cachecol ao pescoço e sem deixarem de ser um simples adepto.
Mas há outras discussões vazias e sem cores clubísticas por incrível que possa parecer. Uma delas é quando se argumenta quem é o melhor jogador de futebol de todos os tempos. As opiniões dividem-se. Os mais velhos escolhem Pelé por ter vencido três mundiais e por ter marcado um número sem fim de golos. Claro que Pelé foi muito mais do que isso, foi um génio. Mas depois há quem diga que naquela altura o futebol se jogava a passo e que se fosse hoje o craque brasileiro nunca conseguiria produzir nem metade do que fez no campo. É um engano, claro. Os génios são intemporais e adaptar-se-iam a qualquer circunstância, por isso é que estão acima de todos os outros.
Depois há os que defendem Maradona por ter levado a Argentina às costas no Mundial de 1986 e por ser um rebelde capaz de ir contra o sistema. Há ainda os que dizem que Messi supera Cristiano Ronaldo por ser melhor tecnicamente, mas outros consideram que o avançado português é melhor porque marca, trabalha e sacrifica-se muito mais do que o argentino para chegar ao topo da montanha. Outros vão argumentar que Messi tem mais Bolas de Ouro e merece ser o melhor de sempre.
Esta é uma discussão vazia. Tão vazia como aqueles que criticam as arbitragens a olhar para as cores da camisola. É vazia porque o futebol tem uma enorme ligação à nossa infância. Quando vemos um jogo somos crianças de emoções à flor da pele, porque é na infância que escolhemos o clube do nosso coração e é na infância que começamos a adorar os jogadores e a considerá-los especiais. Por isso, a escolha do melhor de sempre é influenciada pelo que está lá trás, recuado no tempo, bem no fundo da nossa alma. O melhor jogador que vimos jogar na nossa vida é sempre alguém que vimos jogar quando éramos crianças.