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As sondagens provocam-me sentimentos por vezes contraditórios. Em primeiro lugar, de despeito: não é que eu, apesar de já ter “vivido” milhares de sondagens, nunca fui consultado para nenhuma?! Por outro lado, de inveja por um trabalho tão bem pago sem qualquer responsabilidade. De facto, as sondagens indicam que, se as eleições fossem hoje, o resultado seria este. Mas, como não há eleições hoje, nunca ninguém saberá se as previsões se aproximam, ou não, da realidade, porque qualquer previsão serve para apresentar, mas não para apurar a correção das conclusões - o que desresponsabiliza os seus autores. Mas, também, porque sondagens feitas no mesmo período são como as opiniões de advogados sobre o mesmo problema: diferentes e, por vezes, antagónicas (uma sondagem diz que ganha x e, outra, diz que ganha y). Mas, apesar disto, as sondagens multiplicam-se e permitem à comunicação social preencher folhas e aberturas de telejornais, distorcendo ainda mais os distorcidos resultados das mesmas… E dar tempo de antena a comentadores encartados que “analisam” as previsões como se fossem votos expressos, dando largas à sua imaginação em termos de extrapolação das consequências desses “resultados”.
Em Portugal (e no Mundo!), as últimas sondagens não acertaram uma: nenhuma previu a maioria absoluta do PS em 2022. E todas previam a maioria absoluta, não alcançada, de votos da coligação PSD/CDS nas regionais da Madeira. E rio-me, apesar da amargura, ao ver o cabeça de lista da CDU na Madeira, entrevistado depois de votar, a ter de responder a um batalhão de perguntas sobre o seu futuro pessoal e o da CDU “agora que iam perder a representação eleitoral” (a CDU, contrariando as sondagens, não só manteve essa representação como quase duplicou a sua votação…).
Por isso, 50 anos após o 25 de Abril, tenhamos a maturidade de votar não de acordo com as previsões das sondagens, mas sim de acordo com os programas eleitorais e, fundamentalmente, com a prática de cada força política.