Este Governo inventou o conceito de "renda acessível", dando um conjunto de benefícios aos proprietários que colocassem as suas casas no mercado de arrendamento por um valor que permitisse o acesso às mesmas às famílias da "classe média".
Corpo do artigo
Mas a boa intenção foi logo por água abaixo quando fixou o valor das rendas que entendia por "acessíveis: no Porto, um T1 podia atingir os 525 euros mensais, o T2 os 775 e o T3 os mil euros!
Ficamos logo a saber que quem definiu estes valores vive numa "bolha" social bem mais impenetrável do que aquela que envolveu os adeptos ingleses que vieram ao Porto recentemente. Sendo que estes, pelo menos, e apesar dos vapores etílicos, tinham os pés assentes no chão...
Mas a moda pegou e, hoje, "acessível" é o termo utilizado na publicidade a vários empreendimentos, sejam eles da iniciativa de investidores privados ou de agentes públicos.
Já aqui dei o exemplo da Câmara Municipal do Porto que colocou no mercado, para alugar, um T0 com 17,5 metros quadrados, pedindo uma renda entre 175 e 250 euros (consoante o rendimento do inquilino). Valor sem dúvida menos acessível do que a acessibilidade a todas as valências desta "casa", onde os inquilinos, sem se mexerem, acederão a todas as funcionalidades do lar...
Mas a Câmara Municipal do Porto, talvez por ter poucas obras próprias para apresentar, transformou o seu sítio institucional (pago por todos nós) num canal publicitário de empreendimentos privados. Podemos aí ver que Rui Moreira se deslocou a um empreendimento privado de "unidades de alojamento" para estudantes, onde, inebriado pelo conceito, se esqueceu que as mesmas estão a ser colocados no mercado pelo "acessível" valor de 526 euros mensais para uma área de 17 metros quadrados! Ou a publicidade a um empreendimento privado, com o título "habitações a preços acessíveis", em que os "estúdios" são vendidos ao acessível preço de 140 mil euros!
Como diria o povo, com preços acessíveis destes não precisamos de preços inacessíveis...
*Engenheiro