Parece claro que a direção do PS quer que Marcelo seja reeleito. Aliás a sua recandidatura foi lançada por António Costa na Autoeuropa.
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E, se puxarmos pela memória, o PS tudo fez para que Marcelo fosse eleito em 2016, quando andou com rodeios sobre a candidatura de Sampaio da Nóvoa e, depois, surgiu a candidatura de Maria de Belém.
Mas parte significativa do eleitorado do PS não se revê neste apoio a Marcelo e tenderia a votar nos candidatos apoiados pelo PCP e pelo BE. Preocupada com o risco de estes eleitores poderem, além de "habituar-se" a votar mais à esquerda, reforçar a capacidade de negociação daqueles partidos, a direita do PS entendeu crucial aparecer um candidato do partido; mais conotado à esquerda, cujo objetivo não é pôr em causa a vitória de Marcelo mas, tão-só, impedir o reforço dos candidatos à esquerda. Alguém com ambição de protagonismo pessoal, se possível com exposição pública (ou seja, com aparições regulares nas televisões). Por isso Francisco Assis, hoje o líder da direita do PS, crítico de entendimentos à esquerda e defensor do bloco central, foi o primeiro a lançar Ana Gomes......
Mas, para além de fazer este frete, a questão que se coloca é a de saber o que fará Ana Gomes após as presidenciais. Vai criar algum movimento político para pressionar políticas de esquerda? Para criticar os cada vez mais frequentes acordos do PS com o PSD? Ou manter-se-á comodamente dentro do PS com um discurso acutilante mas inconsequente porque não rompe com o que critica (e que lhe permitiu manter-se como eurodeputada com Ferro, Sócrates, Seguro e Costa). Fazendo com que um conjunto de eleitores, verdadeiramente de esquerda, fiquem com o mesmo amargo de boca de muitos dos que votaram Pintasilgo ou Fernando Nobre, que tinham muito boas intenções e eram "antissistema", mas que acabaram absorvidos pelo centrão (uma como candidata do PS e outro do PSD)...
*Engenheiro