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Ensinar Medicina hoje vai muito para além dos livros e das aulas teóricas. Os alunos precisam de colocar em prática aquilo que lhes é ensinado. Neste contexto, a simulação desempenha um papel crucial no ensino da Medicina. Ela permite que os estudantes pratiquem sem colocar em risco quem está doente. Este método não apenas aumenta a confiança dos futuros médicos, mas também melhora a retenção de conhecimento e a capacidade de lidar com situações de grande stresse, preparando-os melhor para quando estiverem à frente do seu primeiro doente.
A utilização de doentes no ensino médico é considerada fundamental e recomendada numa fase precoce da formação médica. No entanto, a utilização de doentes reais levanta muitos problemas, relacionados com a sua privacidade, segurança e principalmente conforto, por serem pessoas em situação de grande fragilidade.
Os doentes simulados são pessoas saudáveis treinadas para simular que estão doentes. A sua colaboração tem sido fundamental para ajudar não apenas na prática do exame físico dos doentes ou na execução de alguns procedimentos técnicos, mas principalmente para o treino da comunicação. Um aluno (e futuro médico) deve saber comunicar de forma correta com os seus doentes e criar com eles uma relação baseada na empatia, respeito e tolerância. E isso deve ser treinado, pois não surge em todos espontânea e facilmente.
Os doentes simulados podem repetir o mesmo caso várias vezes, permitindo que todos os alunos pratiquem até se sentirem seguros. Além disso, podem adaptar a sua atuação ao nível de experiência de cada estudante. E, muito importante, permitem que o aluno treine num ambiente seguro, onde o erro é permitido, pois todos sabemos que aprender com o erro é essencial para melhorar. Quando bem treinados, os doentes simulados não se distinguem de doentes reais. Estes doentes podem também ser utilizados em situações em que o uso de doentes reais seria inapropriado, como por exemplo o treino para falar sobre assuntos mais sensíveis ou para dar más notícias.
Outro aspeto valioso é o feedback que dão ao aluno logo após a simulação, explicando como se sentiram, o que correu bem e o que podia ter sido diferente. Isso ajuda o futuro médico a refletir, a melhorar e a crescer, tanto como profissional quanto como pessoa.
Coordenador do Skillslab e vice-diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa