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As próximas eleições autárquicas estão a mais de dois anos de distância. É muito tempo para quem almeja liderar as listas de candidatos? É. E não é. É, porque assumir já compromissos tende a desgastar os aventureiros, a menos que os riscos sejam bastante reduzidos. Não é, porque, para além de na política o tempo ser, por natureza, acelerado, convém ir marcando posição, cutucando os potenciais adversários sempre que possível. Veja-se o exemplo do Porto. A saída de cena de Rui Moreira abre um largo espaço de combate pelos votos que os portuenses entregaram ao atual presidente da Câmara nos três últimos atos eleitorais. É isso que explica as recentes arranhadelas entre Filipe Araújo, vice-presidente da autarquia que deseja muito encabeçar a candidatura do movimento independente que levou Moreira ao poder, e Ricardo Valente, vereador da Câmara que deseja, igualmente muito, ser o rosto da Iniciativa Liberal (IL) nas autárquicas de 2025. O problema tem uma causa e duas consequências. Causa: o (inevitável) magnetismo de Moreira secou todas as possibilidades de aparecimento de um sucessor à altura. A aparecer, teria de ser um nome inquestionável, conhecido e reconhecido pela cidade. Não apareceu. Não aparecerá. Consequência um: a Direita tem um problema sério para resolver. A provável dispersão de votos não beneficiará ninguém, antes prejudicará todos, do PSD à IL, passando pelo Movimento Independente. A Direita arregimentada em torno de um candidato forte resolveria a questão? Talvez. Mas, a esta distância, não se vê quem possa ser tal figura. Consequência dois: abre-se a porta da Câmara ao candidato socialista. Digo bem: ao candidato. É que, nesta altura, não há candidato - há candidatos. Uma mão-cheia deles não esconde o apetite. Aguardam-se, portanto, os arranhões à Esquerda.