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No meio da tempestade do Sporting há sempre a tentação para apontar o dedo a João Pereira, um treinador sem a experiência de trabalhar na Liga e sem ter nas mãos o peso de um clube grande. Mas se os leões chegaram a este ponto de irregularidade deve-se à saída de Ruben Amorim para o Manchester United. Percebe-se agora o desgaste do presidente Frederico Varandas, que sentiu o chão a fugir-lhe dos pés quando o técnico se deixou seduzir por um clube grande e histórico, abandonando o projeto a meio e comprometendo as aspirações do bicampeonato. O que fez Ruben Amorim foi pensar nele próprio, sentindo que a oportunidade de lhe aparecer algo tão reluzente como o Manchester United poderia não surgir num futuro próximo. O convite foi a mola impulsionadora para querer dar o salto, o que mostra que o futebol é cada vez mais uma indústria materialista e sem qualquer remanescência romântica.
Em Inglaterra, Ruben Amorim tem um verdadeiro teste do algodão, porque uma coisa é estar num balneário onde os jogadores têm o rótulo de operários, outra é pertencer à estrutura de um clube onde o plantel está recheado de estrelas e apoderado de tiques condenáveis. Chegar com a época em andamento é sempre um risco, sobretudo quando escasseia a confiança e os jogadores foram contratados pelos antecessores, muitos deles pagos a peso de ouro e sem grandes motivações desportivas. O treinador fez uma aposta de risco entre a glória no Sporting e a consciência que o Manchester United era a certeza que tanto desejava na carreira. O futuro, mesmo assim, começa na próxima época e aí não haverá margem para qualquer deslize, porque o atual momento do treinador está longe de ser um conto de fadas. Mas depois de Frederico Varandas ter colocado tudo em pratos limpos na habitual gala anual do Sporting, os adeptos ficaram a perceber melhor o contexto. E também as verdadeiras motivações de Ruben Amorim.