Quando, em 1988, saí da Juventude Comunista e passei a militar exclusivamente no PCP, foi-me atribuída a responsabilidade pelas chamadas organizações ribeirinhas do Porto, que integravam as freguesias da Sé, Miragaia, S. Nicolau e Vitória e, por questões de "arrumação", também Santo Ildefonso.
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Organização com forte implantação do PCP que, para além de deter a presidência da Junta de Miragaia, tinha elementos nos executivos das restantes freguesias. Para um jovem engenheiro em início de carreira, a tarefa era de monta, sendo que só me desenrasquei porque contava com o apoio do Albino Pinto. O Albino era um antigo operário metalúrgico que tinha aderido ao PCP em 1975 e entrado para o seu quadro de funcionários em 1984. Conhecendo as "ribeirinhas" como as palmas das mãos, aceitou, sem qualquer renitência, que um "miúdo" assumisse a responsabilidade pela organização e tudo fez para me apoiar nas minhas funções. Guardo desses tempos a forma como, juntos, calcorreávamos as ruas das freguesias a contactar os militantes e as pessoas. Nas suas casas, nas coletividades, nos cafés. O que me permitiu (a mim, porque o Albino conhecia bem essa realidade até por experiência própria), ficar a conhecer as deploráveis condições habitacionais em que tanta gente vivia no centro do Porto. Bem como o verdadeiro bairrismo associado ao amor à cidade e ao lugar, alicerçado, também, numa cultura que é a verdadeira alma do Porto. O Albino não era homem de grandes teorias nem de discurso adornado. Era aquilo que chamamos um "carregador de piano", que nunca se escondia das tarefas, por mais difíceis que elas fossem. E que, senhor de profundas convicções ideológicas, gostava de fazer as coisas acontecerem. Com boa cara, a que juntava uma genuína gargalhada. No que era secundado pela sua companheira de sempre, a Mariazinha, uma referência da luta das mulheres do Porto. Podem não ser "famosos", mas são daqueles que, como dizia Brecht, são imprescindíveis. Vais fazer-nos falta, Albino!
Engenheiro