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Participei, sob um sol inclemente, na manifestação que decorreu no Porto sob o lema “casas para viver”. Como eu, milhares de pessoas, sobretudo jovens que sentem na pele a impossibilidade de adquirirem ou arrendarem casa, face aos preços exorbitantes das mesmas, ao exagero dos juros e dos lucros bancários (em Portugal a Banca tem lucros de 11 milhões de euros por dia!). E, também, face aos baixos salários que se praticam e à precariedade das condições laborais de muitos deles.
Compete ao Governo assegurar o cumprimento do constitucionalmente consagrado direito à habitação. António Costa prometeu, em 2018, que comemoraríamos o 50. aniversário do 25 de Abril com o problema habitacional resolvido (construindo-se 26 mil casas para famílias carenciadas). Mas a verdade é que essas casas não foram construídas e, fruto de modelos económicos errados, hoje o problema tem muito maior dimensão.
No Porto há, diariamente, moradores a irem viver para fora, substituídos por outros com mais dinheiro e por imigrantes que vivem, na sua maioria, em condições deploráveis.
E uma das causas foi o incentivo dado à proliferação do alojamento local (AL) que, objetivamente, contribuiu para o aumento do valor das rendas, pela rentabilidade da “mercadoria” e pela diminuição do número de casas para habitar. Rui Moreira diz que, no Porto, há habitação com rendas apoiadas a mais (13 mil). Por isso se recusa a construir mais (apesar de termos permanentemente mil famílias em lista de espera!), não obstante o Governo ter disponibilizado verbas para o efeito. Mas AL licenciados eram, há um ano, 10 445 e, apesar das restrições impostas em algumas freguesias, está autorizado o seu crescimento para os 24 885! Ou seja, o Porto poderá passar a ter quase o dobro de alojamentos locais relativamente ao número de habitações municipais! Por isso Moreira foi um dos alvos dos manifestantes...