Gostava de aprender a fazer pão em casa.
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E ficar com o cheiro a pão cozido pelas divisões todas, como acontecia quando era menina e a minha mãe fazia pão no forno, pondo uma folha de couve para ele não ficar queimado. Não sei fazer, mas hoje andei com este cheiro na minha cabeça. A memória é algo notável.
É ela que, na Páscoa, me traz o cheiro de regueifa na infância, no verão o cheiro a relva que eu e os meus irmãos cortávamos, no outono o cheiro a vinho no pipo feito pelo meu pai e no Natal a canela que existia em todos os doces. Fecho os olhos e fico com eles.
Com os cheiros que guardei e que fazem parte das coisas boas na minha vida. E com eles, com os cheiros, vêm outras memórias. De risos, de choros, de decisões boas e más, de surpresas ou desencantos. Cheiros que me dão alento quando sei que, quase aqui ao lado, o cheiro é a morte e a guerra. Sem pão, sem paz.
*Jornalista