Combate à sinistralidade vale nem que salve só uma vida
Corpo do artigo
As mortes na estrada continuam a ser um flagelo em Portugal. Campanha atrás de campanha, muitas a começar logo nos bancos da escola, e ainda bem, e nem assim Portugal consegue atingir os objetivos propostos no que diz respeito à sinistralidade rodoviária. Por isso mesmo, cada iniciativa tomada será sempre de louvar. Uma vida apenas que se poupe já valeu a pena.
No ano passado, registaram-se em Portugal 34.275 acidentes com vítimas, 473 vítimas mortais, 2436 feridos graves e 40.123 feridos leves, um balanço trágico se compararmos aos números do ano anterior: mais 3571 acidentes, mais 72 vítimas mortais, mais 137 feridos graves e mais 4239 feridos leves. Longe, ainda muito longe, dos objetivos traçados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) de atingir zero mortos na estrada em 2030. Uma quimera, se pensarmos que a viragem da década está a pouco mais de uns escassos seis anos de distância.
É verdade que muito mudou e que hoje alguém que beba e depois se atreva a conduzir é olhado com censura por muitos, ao invés de ser visto como um ser ousado. Mas não será essa censura social ainda indiferente para uma larga franja da população?
Como o JN ontem avançou , a 1 de setembro mais 37 radares serão instalados em estradas nacionais, autoestradas e itinerários complementares, sendo o dado mais importante deste anúncio o facto de parte desses equipamentos passarem a medir a velocidade média em vez de registarem apenas a velocidade instantânea.
Podemos concordar com quem argumenta que instalar radares não resolve o problema, pois os condutores apenas abrandam no local de passagem para logo voltarem a acelerar; como também são válidas as críticas que apontam para as fragilidades do ensino da condução em Portugal, outros para os erros de conexão das nossas estradas. Podíamos acrescentar que a crónica falta de civismo dos portugueses é outro dos motivos que explicam a estatística da sinistralidade em Portugal que se mantêm em níveis que nos fazem corar de vergonha.
Segundo dados da ANSR em 2019, o ano que antecedeu a pandemia, os acidentes rodoviários em Portugal atingiram um custo económico e social estimado em 6423 milhões de euros, valor que corresponde a 3,03% do produto interno bruto (PIB) desse ano.
Intolerável, dirá qualquer cidadão dotado do mínimo bom senso. Como parece elementar que os condutores não tenham conhecimento antecipado da localização dos radares, sob pena de andarmos a brincar ao combate à sinistralidade.