A jornalista Ana Peixoto Fernandes esteve no interior do prédio Coutinho, em Viana do Castelo, numa visita exclusiva durante a desconstrução do imóvel, tema nesta edição.
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Perguntei-lhe o que sentiu quando entrou no gigantesco edifício, agora feito em pedaços após sentença de morte. "Um estranho arrepio", respondeu. Esse arrepio senti-o também quando percorri a galeria de fotografias do Rui Manuel Fonseca. Ver bonecas no lixo, pratos abandonados na banca de uma cozinha, uma imagem religiosa no rebordo de uma lareira e saber que até uma cama deixada feita foi encontrada pelos operários leva-me a imaginar o quanto se desfizeram afetos. Destruir paredes exige técnica e força, eliminar betão pede maquinaria. Mas não há nada que acabe com as memórias que aquelas paredes carregam. O desafeto dói. E dói mais quando pagamos por erros de outros.