Disrupção no Futebol: o fim do Ceteris Paribus
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O "Financial Times" publicou recentemente um editorial provocador: "How economists lost traction" (29 de agosto). A ideia era clara: os economistas perderam influência porque confiaram demasiado no pressuposto ceteris paribus - "tudo o resto constante". Esse raciocínio funcionou num mundo estável, mas hoje, com tensões geopolíticas, choques económicos e disrupção tecnológica, deixou de ser válido.
O mesmo sucede no futebol português. Durante anos muitos consideraram que bastariam três ou quatro grandes clubes fortes, talento de exportação e direitos televisivos previsíveis para manter o setor sustentável. Esse foi o nosso ceteris paribus. Mas a realidade mudou.
Tal como na economia, também no futebol é fácil cair em soluções simplistas - renegociar direitos ou depender apenas da formação. Respostas de curto prazo não criam valor estrutural. A sustentabilidade exige disrupção em três dimensões: modelo centralizado de direitos audiovisuais, inovação de conteúdos digitais e modernização de infraestruturas.
O jogo já não é apenas um jogo de 90 minutos. Vive em "highlights", estatísticas em tempo real, bastidores, experiências de segunda tela e gamificação. Plataformas próprias, produção de conteúdos originais e parcerias tecnológicas podem atrair novos adeptos e gerar receitas como subscrições digitais, publicidade segmentada e distribuição internacional.
Também os estádios precisam de ser reinventados: de espaços subutilizados a centros económicos multifuncionais, digitalizados, preparados para turismo, hospitalidade corporativa e eventos, apoiados em projetos de sustentabilidade.
A experiência internacional mostra o caminho: a Premier League, a MLS e a La Liga reinventaram-se. Portugal, através do seu talento, paixão e história, deve adaptar estes modelos à sua escala.
O custo da inércia é claro: menos receitas, baixa competitividade e uma imagem de liga apenas formadora. O ceteris paribus já não chega.