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Quais as palavras certas para dizer a alguém que tem o amor da sua vida, companheiro há mais de 46 anos, pai das filhas e avô dos netos, a viver em sofrimento? O que se diz a uma irmã quando, em lágrimas, conta que o seu amor vai ficar nos cuidados paliativos porque o corpo se tornou numa doença maldita que nem tratamento aceita? Não sei. Não consigo dizer nada de jeito. Repito pedidos de força e de esperança - porque a vida, por vezes, surpreende-nos - e pedidos de coragem, recebidos com um soluçar desesperado. Contenho a minha emoção: dói-me muito ver dois irmãos sofrer e sentir-me impotente, quase inútil. Responder-me-ão que isto é a vida, que há que estar preparado para morrer e para ver morrer. Mas ninguém está. Sobretudo quando tudo se desmorona num momento, sobretudo quando escondemos a dor no lema “viver um momento de cada vez”. Neste sábado, às 6.30 horas, o Joaquim morreu.
*Jornalista