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Pinto da Costa desafiou todas as probabilidades. Desde sempre. Desde cedo. Alcandorou um clube que não brilhava nos escaparates do regime à condição planetária, fê-lo com uma rebeldia refinada, cumprindo o desígnio de uma instituição que, durante tanto tempo, se confundiu com ele. Dizendo à gente o que é ser nobre e leal. Quantas vidas cabem em 42 anos de glórias? E quantos dias têm 87 anos de uma existência quase inteiramente dedicada a uma causa? Jorge Nuno Pinto da Costa foi a figura maior de uma vontade popular difícil de corporizar. Sangue, suor e lágrimas. O F. C. Porto que carregava para todo o lado congregava-se, por sua inspiração e teimosia, na cidade e na região, tornando ainda maior esse sonho azul que não morreu consigo. Ser presidente do Porto não foi apenas ser presidente do Porto. Pinto da Costa tornou-se, de longe, na personalidade mais marcante da história do futebol português. Com a mesma paixão que colocava em tudo, cultivou amizades eternas e alimentou inimigos figadais. Mas mesmo aqueles que não o olhavam com bonomia reconheciam nele uma habilidade inata de não se tornar indiferente aos outros.
Jorge Nuno nunca quis, porém, ser maior do que o clube que lhe deu tudo e ao qual ele deu tanto, pese embora a sua marca de água ser intergeracional, atravessar todos os clubes, regiões do país e geografias do globo. Jorge Nuno encheu um museu de troféus. E era isso, verdadeiramente, que o motivava. Ganhar. A tal ponto que a determinada altura tornou essa exigência num ato natural para todos os que o rodeavam. A vitória fugiu-lhe, todavia, na maior luta interna que o clube testemunhou. A doença venceu-o no derradeiro combate da vida. Mas o que fica para a posteridade é a memória de um homem que se converteu numa lenda. A eterna mocidade forjada num brasão abençoado.