Durante 80 anos, vestiu a pele de personagens diferentes. Ela também era diferente, sorriso largo, versátil, mas sempre ela, a Eunice, merecedora de prémios altos, de aplausos demorados.
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Morreu ontem aos 93 anos. A menina da Amareleja, que contracenou com os melhores e foi protagonista de obras enormes, partiu. Uma dessas obras, que me marcou para a vida, foi "Mãe coragem e os seus filhos", de Bertolt Brecht, vista num televisor quando o teatro também fazia parte da programação. Apesar de um cancro lhe ter tirado a voz, Eunice Muñoz nunca deixou de aparecer, por vezes em papéis que muitos consideraram menores mas que, para mim, sempre a engrandeceram. Andava agora, com a neta, pelo país, na peça "A margem do tempo", título que se colava à sua pele, como um aviso do final. E ele chegou. O seu coração grande deixou de ter coragem para continuar.
*Jornalista