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Que Europa sairá das eleições do próximo ano? Entre 6 e 9 de junho mais de 400 milhões de europeus serão chamados a escolher os seus representantes e, apesar do crescente afastamento dos cidadãos, refletido no elevado número de abstencionistas, o resultado será, sem dúvida, esclarecedor sobre qual o rumo escolhido. Embora ainda seja cedo, as projeções até agora conhecidas fazem antever um hemiciclo cada vez mais à Direita, espelhando a realidade dos parlamentos nacionais.
A recente aprovação em França da lei da imigração revela o beco sem saída em que se encontra o Velho Continente. Dividido entre os princípios da fraternidade, que muito pragmaticamente as necessidades laborais tornavam as políticas de imigração toleradas, a maioria já não tem como disfarçar o incómodo provocado pela presença de tantos estrangeiros. Depois dos regimes mais à Direita, com Itália à cabeça, passando pelos Países Baixos, foi agora a vez do país do Estado Social aprovar uma polémica lei, considerada uma vitória para a extrema-direita. E Marine Le Pen nem teve de se dar ao trabalho de contribuir para a sua redação.
Já tínhamos visto um pouco de tudo. Imigrantes retidos numa espécie de navio fantasma, no Reino Unido, a aguardar a deportação para um remoto país africano; mais a sul, a Grécia isolava-os em guetos longe do olhar dos turistas . Mas talvez nenhuma dessas indignidades tenha chocado tanto como ver o país que acolheu os nossos pais e avós, nos imensos bidonvilles à volta de Paris, à procura de uma vida digna impossível em Portugal, a encurralar os imigrantes e os seus filhos (já franceses por direito sem o serem de facto). E se, até agora, a maioria dos governos tentou disfarçar a situação, chegou o momento em que não há como esconder o problema. Os cidadãos, mais uma vez, irão mostrar nas urnas se Macron e outros líderes europeus estão a contribuir para a solução - ou apenas a dar trunfos aos mais extremistas.