Os últimos 15 meses foram para mim dor, força e sobrevivência. E também um "abre olhos", como se diz popularmente.
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É certo que brinquei com a saúde (quem nunca?) e acabei a pagar caro pelos erros. Mas a vida quando vivida sem riscos sabe a nada e não andamos sempre com o juízo na linha. Paguei caro, mas aprendi muito. Aprendi a relativizar problemas, a sentir o carinho mesmo quando ele chega num fio de voz ou em poucas letras escritas com cuidado, a perdoar quem não sabe dar corpo ao velho ditado "na prisão e no hospital, vês quem te quer bem e quem te quer mal", a dizer "gosto de ti" sem hesitar. Aprendi, sobretudo, a estar grata: à vida, a quem me apoia, a quem confia em mim, aos que conseguem, de facto, "calçar os sapatos dos outros", àqueles que me apertam as mãos com esperança. Conheci gente com alma gigante, bata verde vestida, máscara a apertar o rosto, sempre apta a salvar. Nestes 15 meses, 20 foram os dias em que, numa cama, conheci o sacrifício de viver 23 horas por dia com máscara. Coisa pouca perante histórias sobre quem estava, quase paredes-meias, a tentar vencer o vírus assassino. O meu coração pode ser fraquinho, mas é movido a gratidão. E estou de volta.
*Jornalista