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Quem ficou inibido de conduzir, seguramente, terá cometido uma infração muito grave, talvez mesmo posto a vida de outros em risco. Mas, para estes condutores, a vinda do Papa a Portugal constituiu um verdadeiro milagre. Afinal, o que aconteceu foi algo bem mais terreno, e o Papa Francisco, como é óbvio, nesta história está inocente. Como quase sempre acontece, a culpa é dos homens: desta vez, decidiram amnistiar vários crimes - entre eles, alguns rodoviários.
A amnistia concedida no âmbito da Jornada Mundial da Juventude abrangeria, como uma espécie de tributo, os cidadãos até aos 30 anos. Em Portugal, país onde as mortes na estrada continuam a constituir um verdadeiro flagelo, este perdão especial vai aplicar-se independentemente da idade do infrator.
Só por si, a amnistia de crimes rodoviários seria um péssimo sinal, mas não se entende por que motivo foi decidido eliminar o limite de idade.
José Manuel Trigoso, da Prevenção Rodoviária Portuguesa, considerou, em declarações ao JN, a medida “uma estupidez”. Foi contido. Pois a medida, parece, vai além da estupidez. É mais um sinal contraditório. Se num dia é anunciada, com grande pompa, a instalação de radares, logo a seguir ficamos a saber que podemos acelerar à vontade. No horizonte, enfim, há sempre a possibilidade de sermos perdoados.
Para sermos rigorosos, convém lembrar: este perdão prevê que o condutor deixe de ter de entregar a carta durante um determinado período, de acordo com a gravidade da infração, mas não deixará de pagar a coima. Mais um péssimo sinal, a passar a mensagem de que o mais importante é encher os cofres do Estado e não fazer pedagogia. Haja dinheiro e tudo nos é permitido. Que comentário mereceria isto ao Papa Francisco?