O que é verdade hoje, e apresentado como algo inquestionável, bem pode deixar de o ser no dia seguinte. Basta para isso que a economia e a política se intrometam no caminho. A seguir, cria-se uma nova realidade. Nada de muito complicado, afinal.
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Serve isto para lembrar o seguinte: a Comissão Europeia propôs, o Parlamento aprovou a proposta que transforma o nuclear e o gás natural em energia amiga do ambiente. A partir de agora, ostentam um rótulo verde. E para o passado ficam todos os argumentos que as diabolizaram. Num ápice, de inimigos passaram a grandes aliados do combate às alterações climáticas. Guerra oblige.
Embora se possa reconhecer a passagem da energia nuclear para o campo aliado, não deixa de ser estranho que a Alemanha, depois de ter decidido no final do ano passado encerrar as suas centrais nucleares, aceite agora ativar essas estruturas com vista à neutralidade carbónica. Não esqueçamos: o inverno aproxima-se, a Rússia pode fechar a torneira do gás e deixar os alemães a bater o dente.
Se a integração do nuclear possa ser entendida, não produz emissões, a inclusão do gás natural é bem mais discutível - estamos perante um combustível fóssil, nada se poderá fazer para alterar essa condição.
E a Europa, há muito na dianteira no combate às alterações climáticas, coloca-se agora numa posição hipócrita, ao passar a mensagem de que quando não se consegue alcançar as metas, a solução está em mudar as regras. Batem palmas, com certeza, os produtores de gás natural ao verem as torneiras dos fundos comunitários a abrir-se novamente.
É caso para pensar que as propostas relativas à descarbonização são apenas conversa para entreter ingénuos que visam um dia consumir energia produzida a partir de fontes renováveis. Disseram-lhes que esse era o único caminho. Deixou de ser?
*Editora-executiva-adjunta