A recente interceção, por parte das autoridades bielorrussas, de um avião civil que, devidamente autorizado, sobrevoava o espaço aéreo do país é um ato que deve ser firmemente condenado. De facto, e independentemente de o pretexto para essa interceção ser a captura de alguém por quem não tenho, também, qualquer simpatia, até porque é um defensor confesso de práticas nazis, não é admissível que um Estado deite mão de atos de pirataria para atingir os seus fins.
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Feita a condenação inequívoca deste ato, sinto, perante o coro de protesto do mundo "ocidental" e "democrático", que estamos perante mais um episódio de profunda hipocrisia. Por um lado, porque não sou suficientemente ingénuo para acreditar que este episódio (servido, é certo, em bandeja de ouro pelas autoridades bielorrussas) não se insere numa escalada em que a NATO está envolvida com o objetivo de cercar a Rússia (tal como aconteceu com a Ucrânia e os Países Bálticos). Por outro lado, porque atos com a mesma gravidade foram perpetrados por aqueles que, agora, fazem coro contra Lukashenko. Refiro-me ao ato ocorrido em 2013, quando o avião oficial que transportava o então presidente da Bolívia, Evo Morales, entre Moscovo e a capital boliviana, e que foi proibido de aterrar para escala de reabastecimento em vários países, entre os quais Portugal, por suspeitas de transportar no seu interior Edward Snowden, o militar norte-americano que denunciou o gigantesco esquema de espionagem que este país faz das comunicações pessoais mundiais. Avião que teve de aterrar de emergência na Áustria, onde se comprovou que Snowden não estava a bordo... Mas, também, ao facto de, na sua luta "antiterrorista", a CIA, com a cumplicidade dos seus parceiros da NATO, raptar centenas de cidadãos em diversos países, prendendo-os em prisões secretas na Europa e transportando-os, sem quaisquer mandatos internacionais, com escalas em diversos países (Portugal incluído!) para a prisão de Guantánamo onde os manteve, sob tortura e sem julgamento durante anos.
Engenheiro