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O então secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, com a sua imensa (mas menosprezada por muitos) sabedoria, em entrevista ao jornal “Público”, em setembro de 2022, alertava que, apesar de o PS ter maioria absoluta, não era seguro que a tivesse por quatro anos, “porque o PS tem um historial de processos de implosão” (e disse-o antes da sucessão de episódios tristes que marcaram o Governo no final de 2022, com sucessivas demissões no seu elenco…).
E, talvez até mais cedo do que Jerónimo de Sousa previa, aí está a implosão, com o PS a desbaratar a maioria absoluta que conquistou há cerca de dois anos e com António Costa, apesar da nobreza do ato de demissão, a sair, objetivamente, pela porta pequena pelas escolhas, de pessoas e de políticas, que fez.
Hoje todos sabemos que as eleições de 2021 foram fortemente influenciadas pelo chamado “voto útil”. Milhares e milhares de eleitores tradicionais da CDU e do BE votaram no PS para que este ficasse à frente do PSD (para o que muito contribuíram os habituais “erros” das sondagens que davam um “empate técnico” entre PS e PSD) e, em especial, para “impedir o Chega de ir para o Governo”. Muitos desses eleitores, na própria noite das eleições, quando viram que, afinal, o PS tinha alcançado a maioria absoluta (deixando o PSD a enorme distância), arrependeram-se, dado que sabiam bem o que as maiorias absolutas significavam. Outros, com as opções políticas e económicas que o Governo PS, sozinho, foi tomando (salários baixos, reverência pelos lucros da banca, da energia e da distribuição, degradação do SNS e da escola pública), e com as trapalhadas em que o Governo foi fértil, também passaram a duvidar da efetiva “utilidade” do seu voto.
Chegou, mais cedo do que o previsto, o momento para esses eleitores se redimirem. Não sendo crível a repetição de qualquer maioria absoluta, podem, sem medo, votar em quem, de facto e não apenas nas campanhas eleitorais, defende os seus interesses como cidadãos e como país.