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A minha mãe só votou quando tinha 50 anos. Não cumpria os requisitos do regime anterior para exercer o que hoje é um direito. Parou de fazê-lo aos 90, quando a demência se agudizou com a morte do seu filho mais novo, o meu irmão Carlos, aos 49 anos. Tornou-se em alguém que vivia num mundo à parte, até morrer numa véspera de Natal, quadra de que tanto gostava. Sempre que se celebra o Dia da Mulher ou há eleições é para a minha mãe que dirijo um agradecimento imenso. Porque foi ela que me ensinou o que é ser resiliente, a valorizar o que temos e não o que gostávamos de ter, a partilhar amor e a calçar os sapatos dos outros, a não deixar que me diminuam. Amanhã, ao colocar o meu voto nestas legislativas, é em tudo isso que vou pensar. E direi “obrigada” à minha mãe e a outras mulheres que nos ensinaram a lutar pela liberdade.