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Está em cima da mesa um apelo ao bom senso e responsabilidade do Governo, diz a Ordem dos Médicos. Hoje, senta-se à mesa com o Ministério da Saúde. Assistimos de facto a uma situação a exigir bom senso e responsabilidade, fundamentais para se evitar o caos. Não apenas do Governo, mas, naturalmente, também dos médicos. Ninguém põe em causa as justas reivindicações da classe. Parece evidente para todos: nenhum médico ficará satisfeito e estimulado se no final do mês recebe pouco mais de mil euros de salário base. É verdade. Uma realidade para os profissionais de saúde e para a esmagadora maioria dos portugueses que ingressam no mundo do trabalho.
O que ocorre nos hospitais portugueses, com uma onda de recusas dos profissionais de saúde ao trabalho extraordinário para além das 150 horas anuais previstas na lei, deve ser lida à luz da luta por melhores condições de trabalho. Legítimas e salutares, naturalmente.
O movimento, que aparentemente surgiu de forma espontânea num grupo nas redes sociais, está a causar danos e riscos no Serviço Nacional de Saúde, impensáveis há uns meses. A recusa dos médicos inviabiliza escalas e, por consequência, paralisa serviços determinantes para o funcionamento de urgências. Esta forma de protesto parece ter deixado o ministro Manuel Pizarro surpreendido. Ele próprio médico disse, com alguma candura, que “as urgências funcionam há 44 anos graças às horas extra dos médicos”. É caso para dizer: os tempos mudaram, senhor ministro. Mas, não mudam as regras deontológicas a que os médicos estão sujeitos. E isso deverá ser determinante na escolha das formas de luta. Colocar vidas em risco é, sem dúvida, contrário à natureza da profissão que os médicos abraçaram. E também isso deverá estar em cima da mesa na hora das negociações.