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Ao ver imagens de Kiev lembro sirenes e explosões ouvidas, ainda menina, em Angola. Lembro os abraços e as lágrimas de minha mãe quando se despedia dos meus irmãos que fizeram a guerra colonial. Lembro a alegria que tinha sempre que eles vinham a casa e me traziam marmelada em tubos. Lembro o adeus à cidade onde nasci, na condição de refugiada filha de pais portugueses. Lembro a solidariedade de estranhos que não hesitaram em dar roupa e comida, um palavra de conforto, um abraço. Lembro e choro. Não há boas ou más guerras. Há guerra. E ela faz sofrer inocentes, seja qual for a sua nacionalidade. Portugal abriu as portas a ucranianos que fujam ao conflito. Aqui estarei. Lembremos que há, nas nossas escolas, crianças ucranianas e russas, que temos trabalhadores russos e ucranianos, que conhecemos pessoas de ambos os lados. Eles não passaram a ser amigos e inimigos. Apenas vítimas.
*Jornalista