A lua de mel dos portugueses com o Serviço Nacional de Saúde parece estar a chegar ao fim, caminhando a passos largos para o divórcio. Finda a pandemia, que transformou os profissionais de saúde em heróis, as urgências fecham por falta de médicos especialistas, o que inviabiliza as escalas necessárias. O défice de médicos sente-se maioritariamente aos fins de semana e feriados, aparentemente, por estes não se mostrarem disponíveis a trabalhar a troco de baixa remuneração.
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O diagnóstico está feito. A própria ministra da Saúde reconhece que os profissionais de saúde ganham mal, não há especialistas e é necessário abrir mais vagas. Numa resposta de contingência à crise instalada nos hospitais, Marta Temido avança com a abertura de 50 vagas para a especialidade de ginecologia/obstetrícia - na possibilidade, muito real, de essas não virem a ser preenchidas, admite recorrer a profissionais estrangeiros.
A saúde transforma-se a cada dia no grande negócio, para os que a exercem: à falta de profissionais, para os tarefeiros, conseguem ser pagos a preços milionários; para os grupos de saúde privados, devido às fragilidades do serviço público, acolhem profissionais e doentes. No caso da obstetrícia, é fácil perceber quais são as melhores condições: os partos, no privado, são programados, acontecem à hora marcada, de feição com os interesses de médicos e parturientes; ao contrário, nos hospitais públicos, as crianças chegam ao mundo sem marcação prévia.
É tempo de a saúde dos portugueses deixar de estar refém de interesses corporativos. A Ordem dos Médicos insiste que não faltam médicos e assim, ano após ano, inviabiliza o aumento do número de vagas nos cursos de Medicina. Talvez seja hora de tirarmos a prova dos nove e verificarmos se há ou não médicos suficientes. Os últimos dias demonstram precisamente o contrário.
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