O desenvolvimento das partes remotas de um território
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Quando as partes remotas de um território não são povoadas nem dispõem de recursos naturais que possam ser mobilizados para o crescimento do país a que pertencem, elas podem ser esquecidas, a menos que sejam importantes para a afirmação da soberania.
Isso já aconteceu com Portugal, que tem um cordão de castelos medievais e de praças-fortes do século XVIII que mostram como tomámos a sério a nossa defesa, ao longo da História.
Muitos naturais emigraram para o litoral ou para o estrangeiro. Há aldeias com dois ou três idosos e há outras completamente abandonadas. O fenómeno não é só português! Há muitas povoações, por essa Europa fora, que não têm habitante nenhum.
O irónico da situação reside no facto de quanto mais pobre for o espaço, mais qualificados recursos humanos ele reclama para mobilizar com sucesso alguma riqueza latente que ele tiver. Ou para tentar fixar atividades livres, “foot loose”, que são aquelas que não reclamam nenhuma relação vocacional específica e se podem instalar em qualquer parte, na condição de levar associadas todas as atividades complementares que assegurem a vida dos que irão desempenhar aquelas que estarão na base da animação económica da área. Não é corrente o concurso de circunstâncias que justificam a fixação deste tipo de atividades de modo que a animação dessas parcelas remotas deve desejavelmente repousar no aproveitamento dos magros recursos locais através de fórmulas engenhosas da sua mobilização. Ora, são estas que reclamam habitualmente intérpretes com alta preparação que têm de ser remunerados adequadamente.
Um exemplo para clarificar: uma atividade muitas vezes sugerida para animação dessas áreas é o turismo da natureza. Mas este exige um apoio mínimo de profissionais bem preparados porque, tirando o caso dos visitantes com inclinação de eremitas, os que realmente deixariam uma expressão tangível da sua passagem reclamam o apoio de agentes devidamente formados, o que não é fácil de conseguir.
Uma das soluções é articular numerosas pequenas ou microatividades coordenadas a partir de centros com alguma dimensão onde seja praticável fixar a mão de obra devidamente formada. Mas não é só uma formação elaborada que se revela necessária. São também as formas de organização de um conjunto de atividades mutuamente complementares. Por isso se dizia antes que quanto mais modestos são os recursos, mais exigentes, pelo menos em criatividade e em formação, se mostram ser os profissionais que assegurarão a sua operacionalização.
Indo de patamar em patamar, acabar-se-á por ter de se encontrar uma concentração muito expressiva de profissões diversas que só se verificará num centro urbano com alguma dimensão. E assim chegamos à situação de definir um ou mais sistemas complexos, todos dependentes de um centro que garanta o desempenho de uma grande multiplicidade de funções e onde se fixem os criadores/dinamizadores das tais soluções complexas.
Sucede que não é politicamente ou mesmo psicologicamente aceitável deixar ao abandono parcelas extensas do território nacional, mormente quando elas coincidem com a zona de fronteira com um país vizinho. Por isso se torna indispensável conceber estruturas de ocupação de baixa densidade demográfica mas de razoavelmente elevada capacidade de desempenho que assegurem a cobertura de todo o território. Por isso se dizia ser irónico que os atributos locacionais mais remotos e os recursos naturais mais pobres precisem de reclamar soluções exigentes, quer em criatividade, quer nas qualidades da mão de obra necessária.