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Quando chegou à presidência do F. C. Porto, Pinto da Costa debateu-se com várias sombras e teve de fazer um bom par de quilómetros no deserto para conquistar o primeiro título de campeão nacional, três anos depois de ter sido eleito e num contexto difícil. Na altura havia pouco dinheiro e foi preciso trabalhar a fundo para criar bases sólidas e colocar os dragões na alta-roda do futebol nacional e europeu como o brilho das décadas seguintes veio demonstrar. Quarenta e dois anos depois, André Villas-Boas tem o mesmo desafio numa SAD estrangulada financeiramente e sem argumentos para ter uma equipa de futebol ao nível dos rivais, como a transparência da classificação do campeonato já reflete.
Há, de facto, uma distância de qualidade entre o F. C. Porto, o Benfica e o Sporting, porque o primeiro andou a investir de mãos largas para ter bons jogadores, o mesmo acontecendo com o Sporting que ainda tem uma base de estabilidade assente em futebolistas feitos, como são os casos de Hjulmand e Gyokeres. Mas há também um fosso de argumentos entre este F. C. Porto e o mesmo clube do tempo em que André Villas-Boas era o treinador e tinha Helton, Otamendi, Álvaro Pereira, João Moutinho, Hulk, Falcão e James Rodríguez. Desta atual equipa quem poderia ser titular naquela constelação de estrelas?
Por isso, mesmo os adeptos mais sonhadores não podem exigir o título de campeão no imediato quando se está num enorme processo de transformação e com todas as dores que daí resultam. Mas podem, isso sim, exigir que os jogadores saiam desse enorme escudo protetor e respeitem uma cultura feita de enormes batalhas e sacrifícios. Mesmo sem as melhores peças, o F. C. Porto tem uma identidade, um princípio e uma mística muito peculiares que estiveram ausentes no clássico da Luz. Num jogo com o Benfica, mesmo que as circunstâncias não sejam as melhores, a equipa tem de ser guerreira, ter alma e fazer das tripas coração. Mas não se viu isso na Luz. O que é preocupante.
*Editor