É verão, avizinham-se as férias. Marcelo e Costa ainda medem forças, os partidos políticos tentam ganhar pontos com quezílias reais ou fabricadas.
Corpo do artigo
Na Assembleia da República, casa maior da democracia, continuam as comissões de inquérito, mas poucos conseguem já apontar o que lhes deu origem, tal é o grau de divagação dos deputados que as integram, quais atores ávidos de aplausos da plateia. Provavelmente, a plateia cansou-se, desistiu de ouvir perguntas repetidas até à náusea e deixou os representantes do povo a falar em circuito fechado, a falar para o interior dos seus partidos.
Felizmente, na vida do país, existem outros mundos além deste pequeno mundo de vaidades. Há pessoas, bem longe da luz mediática, a ajudar a mudar Portugal, protagonistas discretos de projetos importantes para o levantar das suas terras e dos seus concidadãos. Um trabalho paciente, feito com paixão e gosto pela vida coletiva. Vem isto a propósito de uma cerimónia simples, todos os anos, no Dia de S. João, em Vila do Conde. Nessa data, a autarquia presta homenagem a quem se destaca na vida do concelho. Este ano, estranhamente apenas este ano, pois o seu trabalho é reconhecido há muito, António Saraiva Dias, antigo vereador da Cultura, entrou na lista dos distinguidos.
Nada mais justo. Vila do Conde muito deve a este homem de causas. Quem defende causas, como lembra Lula da Silva, jamais envelhece. Graças a Saraiva Dias, Vila do Conde ter-se-á transformado numa referência quando se fala em preservação do artesanato português. Se hoje não há vila ou cidade sem uma feira de artesanato, há 40 anos a cidade da foz do Ave foi verdadeiramente vanguardista, lançando esse roteiro estival. Como não podemos dissociar Saraiva Dias da defesa e do ressurgimento das rendas de bilros, ou do Festival Internacional de Curtas Metragens, onde também a sua terra aparece como pioneira e abriu caminhos. Só isso justificaria a singela homenagem. Mas o seu legado é mais vasto. Aos 80 anos (homem de causas não envelhece) continua a sua missão. Pela sua persistência, a Casa Antero de Quental mantém as portas abertas, com as atividades regulares, desde a feira de poesia de pequenas editoras, ao clube de leitura, ou a exposições improváveis. E assim a memória do poeta oitocentista, que em Vila do Conde conseguiu alguma felicidade, alguma paz de espírito, permanece viva.
*Editora-executiva-adjunta