Quase um por cento de todo o território nacional foi devorado pelas chamas, desde o início do ano, com principal incidência nas últimas semanas. Estes dados tornam Portugal no membro da União Europeia mais fustigado pelos incêndios, se tivermos em conta a proporcionalidade entre a área queimada e a dimensão do país.
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Onde o mais distraído cidadão vê uma densa nuvem de fumo negro, há sempre um otimista a vislumbrar um raio de sol a nascer. Uma dessas pessoas, irritantemente otimistas, chama-se Patrícia Gaspar. Aí começa o problema. A secretária de Estado da Administração Interna, que se notabilizou após os incêndios de Pedrógão, entre outras qualidades, pela mestria na arte de comunicar, não perdeu o jeito. Para Patrícia Gaspar, tudo parece estar a correr bem no combate aos incêndios em Portugal. É isso, pelo menos, o que lhe diz o algoritmo.
Não nos preocupemos, portanto. O algoritmo revela: perante as condições meteorológicas severas, a área ardida deveria ser 30 por cento superior. Sendo assim, serenemos. Esse sentimento de dever cumprido será partilhado por todos os que passam noites a proteger terras e habitações? E pelos que lutam contra o fogo, quando os bombeiros tardam a chegar? E que pensa da situação quem já perdeu o que lhe dava o sustento? Não partilhará, sem dúvida, do otimismo do algoritmo.
Desde janeiro, foram destruídos pelo fogo cerca de 100 mil hectares, o que torna difícil imaginar 100 mil campos de futebol reduzidos a cinzas. Perante estes valores de área ardida, duvido que alguém seja capaz de olhar para eles e dizer: "Porreiro, podia ser pior".
Patrícia Gaspar exercita os dotes de gestora de situações de crise. Mas dizer a verdade é a regra de ouro, vem em todos os manuais. Não tentemos, todavia, pintá-la de cores garridas, quando ela é negra.
*Editora-executiva-adjunta