Anda por aí um burburinho pelo facto de a Assembleia da República, em consonância com outros órgãos de soberania, ter decidido fazer a sessão solene de comemoração do 25 de Abril.
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Muitos dos que contestam esta decisão são aqueles que nunca gostaram de comemorar a data. Aqueles que, obrigados a fazê-lo, optavam, ostensivamente, por não pôr o cravo vermelho ao peito. Aqueles que, há anos, procuram subvalorizar o 25 de Abril, procurando eleger como data maior da nossa História o 25 de Novembro... Aqueles que têm horror a que, passados 46 anos, o 25 de Abril se continue a comemorar com tanta adesão popular. Aqueles que têm pena que, tal como aconteceu na ditadura com as comemorações do 5 de Outubro, não sejam proibidas, para sempre, as comemorações do 25 de Abril. Portanto, desses não é de estranhar, havendo apenas a certeza de que, hoje, muitos perderam a vergonha e mostram claramente que o 25 de Abril não é data de que gostem. Apesar de, normalmente, começarem as suas preleções com o habitual "até gosto da data"!...
Mas, nesta onda, são apanhados muitos dos que gostam verdadeiramente do 25 de Abril. Uns porque se deixam enganar pelas falsidades que por aí circulam sobre as comemorações. Outros porque, influenciados pelo medo que hoje mina a nossa sociedade, acham que tudo deve estar confinado. Quanto a estes, ao contrário daqueles que não gostam de Abril, creio que se justifica argumentar em defesa da decisão da Assembleia da República. Porque a Assembleia não parou. Tem trabalhado em condições especiais, mantendo e aplicando a sua capacidade legislativa. Não estarão, assim, presentes todos os deputados e os convidados serão reduzidos - ao todo, na Assembleia, 130 pessoas, quando só deputados são 230. É, pois, falso que se vão juntar "centenas de pessoas" nesta sessão! Mas, dir-me-ão alguns, se não pudemos comemorar tradicionalmente a Páscoa e não podemos ir a funerais dos que nos são queridos, não é um desrespeito fazer uma sessão oficial comemorativa do 25 de Abril? Direi que não! A Páscoa comemorou-se. Os funerais continuam a realizar-se. Tudo se faz é de forma diferente, de acordo, sempre, com as regras da DGS - que devem ser o referencial para qualquer atividade social. Mas a vida não ficou suspensa (embora alguns projetos o tenham sido!) - alterou-se foi a forma de a viver! Por isso, tal como não fico de pijama em teletrabalho, continuo a comemorar aniversários (em casa ou à distância), utilizo redes sociais para mitigar as saudades das verdadeiras conversas de amigos e comerei sardinhas no S. João... Porque a vida continua e, para darmos sentido a essa vida, temos de acreditar no futuro. Que, sem dúvidas, passa pelos ideais de Abril......
Por isso, este ano comemorarei o 25 de Abril de forma diferente. Pelo que, não saindo à rua, e minimizando a falta de dotes vocais, repetirei o gesto de meu pai que, no 25 de Abril, escancarava as janelas e colocava no gira-discos, com som bem audível, a Grândola Vila Morena.
*Engenheiro