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A crise de resultados do Sporting é um bom exemplo de como o sucesso de um clube assenta mais na perspicácia do treinador do que propriamente na construção de um plantel dotado de soluções. Não adianta ter qualidade quando falta alguém que saiba ligar tudo para que as peças possam fluir no relvado e jogar de olhos fechados. Veja-se o caso do Benfica que era uma sombra com Roger Schmidt e agora é uma aragem fresca com Bruno Lage, tendo exatamente os mesmos jogadores. A diferença está nas dinâmicas, nos princípios e na astúcia, porque o futebol é um jogo de ligações e harmonias.
Tudo o que está a faltar ao Sporting, que ruiu como um castelo de cartas desde que Ruben Amorim saiu para o Manchester United. Os jogadores são os mesmos, mas o treinador deixou de ser alguém que tinha um domínio absoluto sobre o balneário, uma empatia natural junto da equipa, que dominava a comunicação e tinha uma ligação de sangue com os adeptos. João Pereira está a sentir o peso da responsabilidade até por não ter experiência no principal escalão e por ter feito alterações nos princípios da equipa para que desse um cunho pessoal e tentasse, aos poucos, romper de forma suave com o passado. Foi um erro, como aconteceu em Moreira de Cónegos. Muitas vezes, a forma mais inteligente de dar continuidade a uma toada de sucesso é deixar tudo como está, mesmo que isso possa valer críticas avulsas. Veja-se o caso de Rui Vitória que manteve o mesmo princípio de jogo do Benfica, nunca abdicando do sistema tático e das rotinas que vinham de trás quando substituiu Jorge Jesus, mesmo que isso lhe valesse palavras pouco simpáticas.
João Pereira ainda está a tempo de voltar atrás, mas o problema agora até é mais emocional do que tático. É preciso tirar o Sporting do buraco e devolver-lhe a confiança. Esse é o grande desafio do novo treinador. Estará preparado para isso?