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Os treinadores que têm ideias próprias devem ser valorizados numa indústria cada vez mais padronizada e feita de conceitos gastos, decadentes e por vezes enfadonhos. Mas isso não quer dizer que as emoções tenham de se sobrepor à inteligência, porque a prudência deve ser valorizada quando se sente a areia a fugir dos dedos na hora do aperto. Entre o risco e a segurança, a opção mais evidente e consensual é tomar as decisões em função das garantias. E o F. C. Porto, neste momento, precisa de garantias, ter resultados e conseguir desbravar um caminho sólido para terminar a época no pódio do campeonato como tanto desejam os adeptos.
É esse horizonte que Martín Anselmi tarda em perceber, carregado de ideias bem ao estilo da pureza dos treinadores sul-americanos, crentes que o futebol tem de ser um espetáculo, mas pouco perspicazes em perceber que nem sempre a estética se deve sobrepor aos resultados quando as equipas precisam urgentemente de vencer. O treinador argentino tem uma ideia de jogo definida, o que é sempre de elogiar, mas de nada lhe vale ter um conceito próprio quando a matéria-prima do plantel é incapaz de dar uma resposta imediata dentro dos padrões pedidos.
A destreza de um treinador é perceber que se não tem peças para jogar o xadrez esculpido dentro da cabeça só lhe resta a solução de inverter as ideias em função das circunstâncias do tabuleiro de jogo. O F. C. Porto precisa de ter essa segurança em campo, sem romantismos e cenários idílicos, com uma ideia adaptada à realidade e às limitações do próprio plantel. No fundo, precisa de ser frio e conservador, bem ao estilo da prudência italiana que é uma escola de resultados práticos. Só assim os dragões se podem salvar no campeonato e também Martín Anselmi sobreviver de um abismo que lhe pode deixar marcas profundas para a próxima temporada.