As escolas encerraram não porque o seu normal funcionamento constituísse risco epidemiológico grave. O motivo foi outro: os movimentos entre casa e escola, e vice-versa, teriam um efeito negativo na tentativa de confinar o País. Como os pais estavam a portar-se mal, castigaram-se os filhos. E agora, com Portugal a preparar-se para desconfinar, há um sério risco dos jovens e crianças pagarem mais uma vez pelo medo que os adultos mostram de tomar decisões difíceis.
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Do que até agora se sabe, tudo aponta para a reabertura, a partir da próxima segunda-feira, das creches o dos infantários. Assim, continuarão retidos em casa as outras crianças e jovens dos outros níveis de ensino, do primeiro ciclo às universidades. O Executivo de António Costa, é certo, pediu ajuda à comunidades científica para robustecer a sua decisão a anunciar amanhã. Coube a Raquel Duarte, pneumologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, e Óscar Felgueiras, do departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da mesma universidade, traçar as linhas do desconfinamento. Um cenário cauteloso, não deixará margem para o Governo voltar a ser alvo da acusação de ter sido demasiado permissivo.
Os portugueses esperam um plano que lhes permita olhar o futuro com alguma previsibilidade e, sobretudo, assente em dados científicos - que englobem, além da vertente epidemiológica, critérios de saúde mental, económicos e sociais. E se há peritos a admitir só uma abertura muito ténue e cautelosa, outros, contudo, defendem que as escolas devem abrir o quanto antes. É dessa multiplicidade de opiniões, todas baseadas na ciência, que a política deverá assentar a sua decisão.
Agora, ouvidos os cientistas, é a vez de dar lugar à política. Espera-se, pois, uma decisão de equilíbrio, entre a segurança sanitária e a vida do País. Sem esquecer os milhares de jovens, há meses privados de contactos. A sua formação, nesta altura, faz-se muito pela socialização, sem desvalorizar a componente de aprendizagem de conteúdos letivos, uma área onde os desfavorecidos são, naturalmente, os mais penalizados.
Sem descurar a saúde dos portugueses, pede-se a quem decide como fazer o desconfinamento para ter em conta um ponto importante: as nossas vidas não aguentam muito mais tempo de pausa. Corre-se o risco de muitos não lograrem voltar a recuperar, nem seja um pouco, do que entretanto perderam. Existe ainda um outro risco: a indiferença fazer caminho, o desconfinamento ficar apenas no papel e as pessoas na rua.
*Editora-executiva-adjunta