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Há pessoas que passam pela vida sem nunca se atreverem a alterá-la; há outras que têm a coragem de mudá-la de curso, desafiando os limites e as probabilidades só para deixarem uma marca na história. Talvez Pinto da Costa tenha sido mais do que isso. Foi a história, a vertigem e uma enorme capacidade de superação ao alcance de muito poucos. Sempre em prol de um ideal, o F. C. Porto. O clube e uma região que se entranharam num homem invulgar, que amava a cidade como ela era, o povo anónimo, as histórias que escondia e essa linha fina que caracteriza o portuense de gema, fazer das fraquezas a maior força da alma.
Ao longo de um percurso ímpar estabeleceu amizades inquebráveis, mantidas à custa de um sentido de lealdade inoxidável, mas também espoletou ódios viscerais que só as emoções pueris e a irracionalidade do futebol podem explicar. Os adeptos prestaram-lhe um tributo genuíno, carregado de afeto e simbolismo, ao colorir de azul uma das portas do Estádio do Dragão com cachecóis, bandeiras e outros objetos de amor eterno ao F. C. Porto, o clube que o antigo presidente transformou numa poderosa máquina vencedora e num símbolo implacável contra o centralismo.
Mas uma pequeníssima franja do futebol não deu uma resposta cabal à altura do homem. O Benfica e o Sporting, os dois maiores rivais do F. C. Porto, preferiram passar pelos pingos da chuva sem qualquer mensagem institucional de lamento por muito seca, sintética e amorfa que fosse. Há princípios inquebráveis como o respeito e o bom senso, dois valores fundamentais quando os adversários são vencidos pela morte durante a dureza da última batalha.
O silêncio ensurdecedor dos rivais fragiliza duas instituições que não estiveram ao nível da sua grandeza e pode contribuir para alimentar a toxicidade que já não devia existir no futebol português.
*Editor