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Há uns anos, poucos, a situação pôs o Porto em polvorosa: andavam a bater às portas de casas habitadas a perguntar se queriam vendê-las. Em alguns casos, o que pagavam era tanto que, mal acabavam os contratos de arrendamento, os proprietários passavam a exercer o direito a habitar o lugar. Nesse tempo, nem a covid coibiu os empreiteiros de avançar com obras e hoje, quando passo em algumas ruas do Porto, tenho dificuldades em reconhecer a cidade. Não tenho nada contra o turismo, mas tenho a certeza de que não levará muito tempo a vermos uma reversão. Essa gulodice pelo parque imobiliário já passou fronteiras. Hoje, há freguesias e lugares onde se tocam a campainhas com uma pergunta sempre igual: “Quer vender a sua casa? Estamos interessados”. Por curiosidade, quis saber de que negócio se estava a falar. Simples: compram o prédio todo, por isso, todos os proprietários têm de estar de acordo e o valor é dado por todo. É muito? - questionarão. Perante o preço das rendas e das casas novas, asseguro que não seduz. E o que é mais assustador é saber que o destino do prédio seria só um: alojamento local. Assustador porque, um dia destes, não teremos locais para nos alojarmos.