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A Ilda e o António não esperaram por agosto para passar uns dias de férias na casa que deixaram, vai para 20 anos, por dificuldades. França foi o país escolhido para uma nova vida que, à custa de muito sacrifício, lhes trouxe mais condições. A Ilda e o António são meus vizinhos, gente boa, sempre com um sorriso.
Os filhos cresceram, fizeram o seu caminho, não parecem disponíveis para regressar. Já Ilda e António gostavam de voltar, de vez, ao apartamento que cheira a mar e se enche de sol todos os dias. E se há um ano esse retorno era algo a acontecer “mais lá para a frente”, ambos parecem agora hesitantes. Dizem que França “não está fácil, tem a vida cara, desemprego, muita agitação”.
O problema, alegam, é que cá não está melhor e se na terra que os recebeu os produtos essenciais são acessíveis a quem ganha pouco, por cá o casal diz que “ficou arrepiado” quando foi às compras e teve de meter combustível. “Está mau em todo o lado, alors”, diz Ilda, garantindo, que se tiver de escolher, será difícil, se os filhos ficarem “na banda de lá”. Daqui a dias, os meus vizinhos deixam, de novo, a casa vazia. Vão cruzar-se com outros emigrantes que fazem de agosto mês de abraços. E de alegria em reencontros.
*Jornalista