A mulher, cabelo apanhado e a pedir pintura, chegou-se ao balcão. Passaram à frente duas ou três pessoas. Ela mirava-as com ar de saudade.
Corpo do artigo
Ao lado, um puto, cabelo rapado, olhos de um azul quase impossível, escondia-se nas saias da mulher. "Bó, quero um gelado!". Ela sacudia o rabo para que a saia dissesse "não" por ela. O puto repetia. "Bá lá...". Ela nada. O homem perguntou-lhe o que queria. "Seis pães mas dos maiores". Ele fez-lhe a vontade. Recolheu as moedas e olhou para o puto que se escondeu na saia da "bó". "É só um Calippo..". Ela espetou-lhe o indicador no nariz: "Só se tiver moedas que cheguem". O puto sorriu e ficou a vê-la a contar. "Chegam, bó?". "Tens sorte, malandro. Bai buscar". E ele foi. Saíram de mãos dadas. Ela com um olhar de ternura, ele com ar de grato. Sentaram-se no banco do parque e foi bonito vê-los partilhar pão e gelado. O amor pode ter os sabores que se quiser.
Jornalista