Corpo do artigo
Nunca me calarão contra a violência doméstica. Nem contra a morte que dela resulta. Saber que entre janeiro e junho deste ano morreram em Portugal 16 mulheres vítimas de violência doméstica, tantas como em 2021, é aterrador. Como aterrador é fazer cálculos e saber que só no mês passado foram mortas seis mulheres, o que significa que em cada cinco dias houve um crime dessa natureza. O retrato dos assassinos é quase sempre comum: ex-maridos ou ex-companheiros. As vítimas também têm pontos iguais porque viviam ou tinham vivido uma relação onde a violência era constante. E sempre que uma mulher morre desta forma ignóbil perdemos pontos como comunidade. Continua enraizada a posição de não nos metermos na vida dos outros. Pois não. Na vida que é boa. Naquela que tem gritos e sons de socorro, temos de nos meter. Porque não acontece só aos outros.
*Jornalista