O meu tio Juvêncio foi para o Brasil ainda menino. Voltou com 85 anos, sotaque a Rio de Janeiro que nunca perdeu por muito que se esforçasse.
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Voltou porque temia a violência do país de acolhimento. Pedro Pichardo nasceu em Cuba, desertou em 2017 por discordar do regime e um ano depois, já em Lisboa, naturalizou-se português.
Foi como atleta luso aos Jogos Olímpicos de Tóquio, arrebatou uma medalha de ouro no triplo salto, bateu novo recorde nacional e foi porta-estandarte português no encerramento. Mas houve quem não gostasse de o ver empunhar a bandeira nacional por causa do sotaque.
O meu tio candidatou-se à Junta de Sortes, freguesia de Bragança. Ganhou as eleições e melhorou a terra. Mas houve quem não gostasse de o ver à frente da Autarquia por causa do sotaque. Nós, país de emigrantes, somos assim. Sotaques só no verão e com cheiro a Paris.
*Jornalista