A clareza e a transparência são as únicas formas de comunicação em situação de crise. Dizer uma coisa hoje, outra diferente no dia seguinte, ter uma atitude em relação a um caso, outra em relação a algo semelhante, perturba, cria ruído e quebra a confiança. E é, sobretudo, de confiança que necessitamos neste momento.
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Os responsáveis do PCP, partido organizador da Festa do Avante, quando todos viam o verão dado com perdido, o que efetivamente aconteceu para a maioria, na Soeiro Pereira Gomes afirmavam com convicção que o tradicional mega-encontro dos comunistas iria realizar-se. Tinham razão. Com todos os festivais cancelados, festas e romarias silenciadas, discotecas fechadas, a Quinta da Atalaia no Seixal, com capacidade para acolher 100 mil pessoas nos seus 25 hectares, surge aos olhos dos menos céticos como um reduto livre de riscos de contaminação por Covid 19.
Os dirigentes e militantes do PCP, certamente, tudo farão para cumprir as regras impostas pela Direção-Geral de Saúde, o distanciamento social será a regra, todos irão equipados de máscara e não faltará gel desinfetante em todas as tasquinhas, feiras do livro, auditórios, salas de exposição. O que está em causa aqui é o princípio: permitir a umas entidades a realização de eventos e a outras não, sem que os pressupostos e condições desta autorização sejam completamente claros.
A ministra da Saúde ontem foi clara: a lotação da Festa do Avante, este ano, terá de ser inferior à capacidade do espaço à beira Tejo. Mas se o encontro se concretizar, as autoridades de saúde não terão como explicar se, eventualmente, surgir um surto relacionado com esta festa.
*Editora-executiva-adjunta