Ao nível das relações pessoais, este é um tempo em que, com toda a justiça, se começou a prestar mais atenção à violência verbal e emocional, formas de agressão não tão concretas como as físicas e, por isso, subestimadas durante séculos. Em simultâneo, na campanha eleitoral brasileira, este é um tempo do insulto generalizado e permanente.
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Esses insultos estão na internet, como já se esperava, mas também estão pintados nas paredes de São Paulo, às vezes são gritados a partir de carros em andamento que passam por pontos de campanha eleitoral e, claro, fazem parte dos discursos dos políticos, amplificados em todos esses meios e em muitos outros.
Esse é um sinal de campanhas eleitorais mais focadas na rejeição do adversário, do que na afirmação do próprio candidato. Os programas vão ficando em segundo plano, nada aprofundados. Os temas específicos quando conseguem chegar ao debate, quando não são soterrados pelos insultos, são grosseiramente simplificados. Temas fundamentais de governação como a saúde, a educação, a economia, a corrupção, a segurança, são resumidos a sim ou não, a bom ou mau.
Muitas vezes, o alvo dos insultos não é sequer o adversário, mas todo o seu eleitorado. Pessoas de muitas formas, com múltiplas origens e intenções são reduzidas a uma única coisa e, logo a seguir, são caracterizadas com os piores adjetivos.
Assim se envenena um país inteiro. Aconteceu com o gigante Brasil, outrora terra de otimismo congénito, hoje tão fértil de ressentimento como de frutos tropicais. Pode acontecer em qualquer lugar do mundo. Nesse sentido, e em vários outros, estas eleições presidenciais brasileiras são um alerta que traz preocupações ainda mais amplas do que as imensas fronteiras deste país.
*Escritor