A dona Irene tem 90 anos e vive sozinha. Perdeu rasto à família e a família não a procura.<br/>
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Tem a ajuda de uma amiga, de 78 anos, que, tal como ela, não sabe ler nem escrever, tem um telemóvel dos antigos, não usa Internet. Sabe "fazer uma sopinha, cozer um peixinho e dar uma varridela à casa". A roupa é lavada numa bacia e os banhos, semanais, são feitos "aos bocados". Irene nunca teve uma conta bancária. Recebe a pensão de velhice por vale dos Correios que endossa à amiga para ir levantar. Ambas ainda têm bilhete de identidade. As pernas de Irene estão cada vez mais pesadas e passa os dias entre a janela para a rua e a cama. Não vai receber os 90 euros trimestrais destinados a ajudar pessoas vulneráveis. Não vai porque não tem conta bancária. Não tem conta nem quem, com conhecimentos, tome conta dela. Pobres "irenes" deste país.
*Jornalista