As eleições europeias vão realizar-se sensivelmente daqui a um ano. E qual é o desígnio potencialmente capaz de levar os eleitores a saírem de casa no dia do escrutínio? Muitos farão escolhas por motivos óbvios: a fidelidade a um determinado partido ou área do espectro político. Seria lamentável constatar que o projeto europeu em si mesmo não é motivo suficiente para colocar uma cruz num boletim de voto.
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Não devíamos todos defender nas urnas "o modo de vida europeu"? Será este o móbil ideal para uma votação expressiva nas próximas eleições? Esta expressão tem um histórico interessante. Em setembro de 2019, o "The New York Times" relatava um mar de rostos perplexos quando a presidente eleita para a Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou um "vice-presidente para proteger o nosso modo de vida europeu". Os críticos alegaram que havia naquele cargo uma certa retórica de extrema-direita que identificava a Europa como branca e cristã, e a migração do Oriente Médio e de África como uma ameaça. Curiosamente, em fevereiro deste ano, Volodymyr Zelensky foi ao Parlamento Europeu dizer que a resistência ucraniana à invasão russa constituía uma defesa do modo de vida europeu.
O problema fundamental do europeísmo vacilante resume-se numa palavra: assimetrias. Eu quero ser europeu se tiver uma Segurança Social nórdica, comida portuguesa, salário de alemão e transportes públicos como no Luxemburgo. A Europa não me interessa se tiver salário de um grego, máfias italianas nas ruas ou grande parte da imprensa amordaçada, como na Polónia e na Hungria.
Em 2024, muitos perguntar-se-ão se a Europa está mais ou menos assimétrica. O nível de abstenção dependerá das respostas obtidas por cada um àquela questão. Um pormenor a reter: os alemães do Leste foram aumentando a sua participação nas eleições (internas e europeias) à medida que as desigualdades, face aos compatriotas ocidentais, foram sendo mitigadas.
* Editor-executivo-adjunto