Espaço municipal de Guimarães é autossuficiente e ganhou 16 mil euros no ano passado. Outros equipamentos gastam cerca de 1,3 milhões em luz e gás.
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A Academia de Ginástica de Guimarães poupa tanta energia que até vende a que produz a mais. Ou seja, acumula crédito junto do forneceder de eletricidade que, entre janeiro e outubro do ano passado, se cifrou em 16 mil euros. Note-se que antes deste acordo de autoconsumo gastava 30 mil euros por ano em eletricidade.
Inaugurado em junho de 2017, como emblema da candidatura da cidade a Capital Verde Europeia em 2020 - estatuto que a cidade não alcançou - o equipamento, que custou mais de 3,5 milhões de euros, nasceu para ser autossuficiente em termos energéticos e tornou-se numa bandeira de Guimarães, tendo a máxima classificação de sustentabilidade (A++).
Amadeu Portilha, presidente da Tempo Livre (a cooperativa detida maioritariamente pelo Município que gere as instalações voltadas para o exercício físico e mental) chega à academia numa manhã fria e mostra o termómetro a marcar 17 graus. "Está a esta temperatura depois de ter estado tudo desligado durante a noite. As máquinas agora só têm de recuperar até aos 20", refere ao JN.
Revestimento a cortiça
Todo o edifício é um ecossistema pensado para o uso eficiente da energia. A temperatura agradável no interior do pavilhão é alcançada pelos 2000 metros quadrados (m2) de revestimento exterior a cortiça. "Atingimos a temperatura ideal em minutos. No Pavilhão Multiusos, nesta época do ano, se quiser a mesma temperatura, tenho de começar a aquecer o espaço dois dias antes", compara. Num ano em que a maioria das instalações desportivas municipais lutam com o aumento dos custos da energia (que se prevê de 1,3 milhões de euros anuais), o equipamento tem um excedente de mais de 16 mil euros que injeta na rede.
A construção lançou mão de tudo o que podia para obter este resultado. O ar que entra no edifício é captado através de um poço, aproveitando o facto de no interior da terra a temperatura ter menos variações. Este sistema é combinado com bombas de calor que aproveitam a energia térmica existente no ar para a lançar no interior do pavilhão.
Para aquecer o ar é também usada uma parede de trombe. Trata-se na realidade de duas paredes, uma pintada de negro a que se sobrepõe uma segunda vidrada. A luz do sol aquece o ar que fica no espaço entre estas duas paredes e que depois é conduzido por condutas para aquecer o interior.
Ao lado da Academia de Ginástica, há um lago que capta a água que corre da montanha da Penha. Esta, depois tratada, é usada não só para os sanitários, mas também para alimentar os sistemas de arrefecimento. A cobertura da nave lembra as antigas fábricas, com claraboias orientadas a Sul, que reduzem a necessidade de iluminação artificial.
Quilómetros de leds
A eletricidade para os quatro quilómetros de leds e para todos os sistemas, nomeadamente o aquecimento de água, é garantido por 1300 m2 de painéis solares. Esta central fotovoltaica garante uma produção superior às necessidades. Uma parte do excedente é armazenado em baterias, o resto é vendido ao fornecedor de eletricidade.
A Academia de Ginástica funcionou, até meados de 2019, sem contrato de autoconsumo. Amadeu Portilha mostra um gráfico com uma linha que desce vertiginosamente desde essa data: são os gastos com a eletricidade. "Felizmente aqui, ao contrário do que acontece noutros espaços, não temos gás", regozija-se Amadeu Portilha.