"Mais uma pagina de anciedade e quem sabe se de rigoroso luto". Foi assim que abriu a edição de 17 de janeiro de 1913, sobre o "grande naufrágio" que colocou 232 pessoas em perigo, em Leça da Palmeira. Na madrugada do dia anterior, o paquete inglês Veronese tinha encalhado nas pedras do "Lenho", junto à praia da Ponte Nova, a norte do porto de Leixões. O barco a vapor tinha mais de 11 mil toneladas e ficou preso a cerca de 250 metros de terra, como noticiou o JN.
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Foram precisos "tres dias e tres noites" para concluir as missões de salvamento. Mesmo com um "nevoeiro cerrado e um mar bravo", milhares de pessoas foram até ao local para acompanhar o resgate. "Aos gritos dos naufragos juntam-se a ira do mar e as vozes commovidas dos milhares de pessoas que da terra tem aquella agonia lenta, cruciante e apavorada", descreveu o JN naquele dia.
O motivo do naufrágio foi um "lamentável engano do capitão", que ao aperceber-se da iminência do perigo "ordenou que o navio encostasse mais à terra".
Face à impossibilidade de atravessar o mar, foi preciso recorrer ao lançamento de foguetões de terra para bordo, para ligar os cabos de vaivém. Foram tantas as tentativas falhadas que o equipamento da cidade "esgotou". O resgate envolveu a presença das corporações de Bombeiros de Matosinhos-Leça, do Porto, de Gaia e de Vila do Conde.
Segundo o JN, das 232 pessoas que iam a bordo, morreram cerca de 40 e foram salvas 188. "80 foram salvas por cabo de vae-vem e 108 foram recolhidas nos dois salva vidas" que só intervieram ao terceiro dia, devido à bravura do mar. Os barcos em questão eram o "Cego de Maio", vindo da Póvoa de Varzim, e o "Rio Douro", de Leixões.
Dorothy Alcoy, uma jovem de 15 anos, foi a primeira a chegar a terra. Margory Turnbull, com apenas oito anos, chegou pouco depois e foi uma das mais jovens a serem salvas. Houve uma mãe que chegou a terra desmaiada, mas agarrava o filho ao colo "para que o mar não lho pudesse levar". Foram colocadas tendas médicas na própria areia para que as equipas conseguissem intervir nos casos mais urgentes.
À data de domingo dia 19 de janeiro de 1913, já não havia mais pessoas no paquete. Durante a semana que se seguiu, o JN acompanhou os sobreviventes. Alguns voltaram para casa, enquanto 130 continuaram viagem no "Darro", outro paquete que seguiu para os portos do Brasil. A tripulação acabou por ser distribuída por outros navios da mesma companhia, a Lamort & Holt Line.