Projeto de templo que ardeu em 2017 e pago pelo povo não reúne consenso. Lavradas espera há três anos pela reconstrução.
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Três anos passaram desde que, em dezembro de 2017, a freguesia de Lavradas, Ponte da Barca, acordou sobressaltada de madrugada com um incêndio a destruir a igreja. O fogo provocado por um curto-circuito deixou apenas as paredes do templo em pé e provocou consternação geral.
O bispo de Viana do Castelo, D. Anacleto Oliveira, falecido no verão passado, apelou então à generosidade do povo para se reconstruir a igreja paroquial de S. Miguel de Lavradas e a adesão foi tal que os donativos atingiram "mais de 400 mil euros". Aliaram-se à causa não só a população local e as paróquias em redor, mas também comunidades de emigrantes espalhadas pelo Mundo. A onda solidária quebrou-se, no entanto, quando ganhou terreno a discórdia por causa do projeto escolhido pela diocese, que passa, em vez da reconstrução, pela edificação de uma igreja nova ao lado da velha, com demolição de uma antiga casa paroquial. E gerou-se um impasse, que dura até hoje.
"O povo de Lavradas já está exausto. Era bom que a obra fosse concluída rapidamente", lamenta o presidente da Junta, André Fernandes, referindo: "Gostava que isso já tivesse ficado resolvido em 2018. De resto, não sei mais nada. É um assunto entre o pároco, a Comissão Fabriqueira e a Câmara".
O autarca de Ponte da Barca, Augusto Marinho, adiantou ao JN que, após avanços e recuos para "a sua adaptação à lei", o projeto de arquitetura foi finalmente aprovado em 20 de novembro de 2020.
"Foi submetido à Câmara e o que foi aprovado contempla uma parte nova e o restauro da igreja antiga", adiantou Augusto Marinho, referindo que "o proprietário [Igreja] já foi informado e tem um prazo de seis meses para apresentar o projeto de especialidades".
Impasse lamentável
Marinho lamenta o impasse que se gerou e dividiu "uma freguesia que foi unida" e pugna para que o caso se encerre. "Espero que se resolva da melhor forma e que a freguesia se encontre novamente com a Igreja, independentemente dos gostos das pessoas", comentou, acrescentando que naquela Autarquia "deu entrada e foi apreciado apenas um projeto".
Recorde-se que, após o incêndio, Rafael Freitas, um arquiteto natural de Lavradas, ofereceu-se para ajudar a custo zero, e desenhou três propostas: a reconstrução simples da igreja (375 mil euros), a obra com uma ampliação (525 mil) e a construção de um templo novo, demolindo a casa paroquial e convertendo as ruínas da velha em espaço museológico (600 mil euros) . A diocese terá optado pela última. O JN tentou reiteradamente contactar o pároco de Lavradas, Filipe Sá, mas sem êxito.
José Gomes, 89 anos, que vive numa casa ao lado da igreja, recorda a madrugada fatídica. "Lembro-me que fui à casa de banho e comecei a ouvir uns estouros. Abri a porta e já estava o lume a sair pelo telhado", descreve, comentando: "A freguesia está em dois partidos: uns querem uma igreja nova, outros querem a velha. Para mim é igual. Já não vou a tempo de ir para dentro dela".
Acontecimentos
2017 - Incêndio
A igreja ficou destruída por um incêndio. A população deu dinheiro mas quando a diocese escolheu ampliar o templo, estalou a discórdia.
2018 - Pichagens
A residência paroquial foi vandalizada com a inscrição de frases a pedir um referendo sobre a sua reconstrução.
2019 - Aprovação
Projeto foi aprovado em reunião de Câmara de Ponte da Barca.