No Grande Porto, existem 24 mercearias com venda a granel. Algumas são de desperdício zero.
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Em 2018, o destino trocou as voltas à vida de Catarina Rato. Aos 38 anos, a bióloga abriu a mercearia de desperdício zero Menina Bio, em Vila do Conde, e deixou de lado a investigação da fauna e da flora da vida marinha. "Lembro-me de ter visto uma reportagem sobre a mercearia Maria Granel, em Lisboa, e de ter pensado: "Uau, deve ser fantástico ter uma loja assim", explica ao JN.
O conceito desta nova geração de merceeiros é simples: uma grande aposta na venda de produtos de granel, como forma de não desperdiçar alimentos e de diminuir o consumo de plástico, através de frascos de vidro e da reutilização de sacos de papel, pano, e até de plástico. De acordo com o site www.agranel.pt, na zona do o Grande Porto existem cerca de 25 lojas com venda de produtos a granel.
Na Menina Bio há mais de 100 produtos vendidos a peso, desde frutos secos, frutas desidratadas, farinhas, especiarias, chás, muesli e aveia. Tudo é biológico. A mercearia de Vila do Conde acrescentou há cerca de dois meses outra novidade: detergentes da roupa e da loiça a granel.
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Público mais jovem
Também no Porto, na Rua de São João Bosco, os clientes da Maçaroca - Mercearia Viva começaram a pedir produtos de limpeza a granel. "Sentimos um grande crescimento com o público jovem, que está mais sensibilizado para a sustentabilidade ambiental", diz José Peixoto, 38 anos, um dos três sócios gerentes da mercearia, com cerca de 600 produtos a granel.
Cada uma destas lojas sabe que a venda a peso não é tarefa fácil. O mercado de nicho tem feito com que os proprietários apostem em novas estratégias: parte dos produtos são embalados e a exclusividade no granel não é, para já, uma opção. "Ter um negócio deste tipo e trabalhar com base no desperdício zero não é a melhor ideia para negócios com margens de lucro absurdas", diz o antigo economista.
Carlos Cunha abriu em janeiro de 2017 a mercearia Toca do Granel, no Porto, com mais de 300 produtos à disposição. Em menos de um ano teve de fechar as portas por falta de clientes. "A cidade não estava preparada e continua a não haver grande interesse. As compras a granel dão trabalho e as pessoas ainda preferem as embalagens". No Porto, pelo menos duas lojas só a granel fecharam em 2017.
Entrevista
Entrevista a Ana Milhazes, fundadora do movimento Lixo Zero Portugal
A venda a granel está em crescimento em Portugal?
Sim, eu comecei a fazer compras a granel em 2016 e tinha muita dificuldade. Fazia nas mercearias mais antigas do Porto. Mas como consumia produtos biológicos era ainda mais difícil. De 2016 a 2018, houve um crescimento enorme de mercearias de desperdício zero.
As mercearias de desperdício zero têm mais sucesso em Lisboa do que no Porto?
Há uma grande diferença. Em Lisboa começaram mais cedo e não tenho conhecimento de que alguma loja tenha fechado. No Porto, fecharam duas lojas onde fazia compras. Talvez o público seja mais conservador no Norte e ainda não esteja disposto a fazer compras neste tipo de mercearias.
As pessoas estão mais sensibilizadas para compras sustentáveis?
Cada vez mais. Eu vejo pessoas que à partida não estariam interessadas no ambiente a ficar mais incomodadas com a questão dos plásticos descartáveis e das embalagens.
É uma questão de tempo para comprarmos todos a granel?
Os consumidores estão a pedir mais destas opções e o Planeta não vai aguentar por muito mais tempo. Há um exagero no consumo, compramos coisas de que não precisamos.