O presidente da câmara de Caminha, Rui Lages (PS), garante que irá até às últimas consequências para recuperar os 300 mil euros (mais cerca de 69 mil euros de IVA), do adiantamento pago em 2020 à empresa GreenEndogneous, no âmbito do contrato de arrendamento do Centro de Exposições Transfronteiriço (CET).
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A afirmação foi feita durante a reunião extraordinária da assembleia municipal de Caminha, realizada quinta-feira à noite por solicitação da coligação "O Concelho em Primeiro", liderada pelo PSD, para discutir o caso que levou à demissão do ex-secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro e ex-autarca, que celebrou o contrato, Miguel Alves. E que aprovou por maioria, com a abstenção dos socialistas, uma recomendação da oposição que propõe, além da resolução do contrato do CET por incumprimento por parte da GreenEndogneous, com devolução do respetivo pagamento antecipado, que a empresa e o seu representante Ricardo Moutinho, sejam "processados judicialmente pelos crimes de burla qualificada e civilmente pelos prejuízos patrimoniais causados ao municípios, assim como pela violação de expectativas jurídicas". A proposta foi aprovada com 15 votos a favor (coligação O Concelho em Primeiro liderada pelo PSD, CDU e BE) e 20 abstenções.
No plenário da assembleia, que debateu durante cerca de cinco horas os contornos do negócio do CET, o sucessor de Miguel Alves, Rui Lages, afirmou: "A recuperação do dinheiro é um ponto de honra para o município de Caminha". "Se assim não suceder [pagamento voluntário por parte do promotor], a câmara municipal disponibilizará todos os meios necessários e ao seu alcance para que possa ficar com este montante em seu poder. Este é um objetivo pessoal", acrescentou.
Em resposta a pedidos de esclarecimento dos partidos, sobre uma alegada auditoria do Tribunal de Contas e investigação do Ministério Público, relacionadas com o referido contrato, o autarca refutou que o município tenha sido notificado até ao momento das mesmas. "Quanto à questão da auditoria do Tribunal de Contas, permitam-me informar que a câmara municipal não tem conhecimento da mesma, não foi contactada, nem inquirida por esta instituição", disse, acrescentando: "Relativamente ao Ministério Público, a câmara de Caminha teve conhecimento da nota tornada pública pela Procuradoria-Geral da República, não tendo a mesma até à presente data, solicitado qualquer tipo de esclarecimento ou questão ao município".
Rui Lages comentou ainda as notícias que visaram o caso ao longo das últimas semanas. "Só tenho a lamentar a forma como o concelho de Caminha foi tratado. Não merecíamos ser tratados dessa forma. Podemos debater política, fazer política e esgrimir argumentos. Não podemos é humilhar, achincalhar, culpar. A culpa serão os tribunais decidi-la", declarou.
Recorde-se que, na véspera da realização da assembleia, aquele autarca tinha apresentado e feito aprovar em reunião do executivo uma proposta com vista à resolução do contrato, alegando incumprimento por parte de Ricardo Moutinho, na prestação de garantias que possibilitassem a manutenção do contrato. A iniciativa não estava inicialmente prevista, mas foi incluída na ordem de trabalhos da reunião de câmara e aprovada por unanimidade.
A longa noite na assembleia municipal de Caminha, ficou, de resto, marcada por muitos momentos de uma discussão acesa sobre o caso, que tem dominado a atualidade nas últimas semanas, envolvendo o município de Caminha e o ex-governante socialista, Miguel Alves. A deputada do PS, Paula Aldeia, criticou "a forma rude, vil e infame como foi tratado o ex-presidente da câmara de Caminha, Miguel Alves", face "a zero provas demonstradas". E aludiu à "tentativa de subida ao poleiro de diversos galos". Já Abílio Cerqueira do BE, criticou "a trabalhada do pavilhão transfronteiriço" e a celebração de um contrato que "lesa todos os caminhenses". Considerou mesmo que "o executivo atual não tem legitimidade política para continuar" e apelou à demissão de Rui Lages.
O deputado da coligação O Concelho em Primeiro, Alexandre Fernandes, questionou "para onde é que forma os 300 mil euros" e comparou mesmo Caminha "à aldeia do Astérix". "Todo o país já percebeu o que passa aqui e o Partido Socialista está lá naquela aldeia a tentar lutar contra isto. São os únicos a julgar que, afinal não, nós queremos o CET e andar para frente. Saiam dessa aldeia ou dessa nave, que queriam construir, e ponham os pezinhos no chão", disse aquele deputado. Celestino Ribeiro da CDU questionou o impasse em que o contrato se manteve ao longo dos últimos meses, apesar de expirados os prazos relativos ao cumprimento do contrato e lamentou "o escândalo público" em que Caminha "mergulhou".
