Voluntários de Aveiro, Famalicão e Santa Maria da Feira regressaram a Bissau, onde há um ano operaram 140 doentes em 15 dias, a maioria crianças. E levaram reforços.
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"O difícil não é ir, o difícil é não voltar a ir". Paula Eira, enfermeira, resume em meia dúzia de palavras com sentimento escondido a Missão Rumo à Guiné 2020. Paula volta a integrar uma equipa médica de 16 elementos de Aveiro, Famalicão e Santa Maria da Feira que esta semana chegaram maioritariamente a Bissau para, numa ação de voluntariado, tratarem crianças e adultos, à imagem do que 12 fizeram há um ano, em que realizaram cerca de 140 cirurgias em duas semanas no Hospital Nacional Simões Mendes (HNSM). Este ano, para além de cirurgiões, ortopedistas e anestesistas, que foram o ano passado, vão também duas otorrinolaringologistas. Mas também enfermeiros, assistentes e especialistas em logística.
Este ano, ao contrário de 2019, no contentor gigante carregado de equipamento médico não entraram objetivos quantificados. O ano passado acreditava-se à partida que era possível fazer 200 cirurgias em 15 dias, agora não há essa "pressão" na comitiva, que aprendeu a não fazer previsões em África.
"Houve uma série de imprevistos que dificultaram o nosso trabalho", lembra Nuno Fernandes, um anestesista que volta à Guiné. "Desde a falta de recursos materiais à organização do hospital, que não facilita a logística, passando pelo período de Carnaval e campanha eleitoral, que parou a cidade, complicando a circulação dos profissionais", justifica. Se a isto juntarmos a falta de energia elétrica, porque não havia dinheiro para comprar combustível para o gerador, ou as quebras de oxigénio, pelo mesmo motivo, percebe-se a ausência de previsões. Além disso, agora vão fazer cirurgias mais complexas e demoradas, como do pé boto (torto), que afeta muitos na Guiné.
chega às escolas
Luísa Azevedo e Sandra Augusto são as otorrinolaringologistas do Hospital de Aveiro que na próxima semana chegam à Guiné, onde só existe um otorrino no país, acompanhadas de um técnico de uma empresa que vai ajudar nas consultas e na oferta de aparelhos auditivos. "Temos a obrigação de ajudar quem precisa e lá fazemos muito mais a diferença", dizem ao JN, uma opinião partilhada por Emília Silva, anestesista do hospital de Santa Maria da Feira.
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Os médicos portugueses mudaram a vida de muita gente na primeira passagem. José Sousa, enfermeiro repetente, mostra no telemóvel a foto de felicidade da mulher de 39 anos que estava há dois anos com uma fratura não consolidada no braço. Poucos dias depois de ser operada foi logo trabalhar. "É a diferença entre passar muita ou pouca fome", explica.
Mas nem só de operações e consultas vive esta missão à Guiné. Todos os minutos são aproveitados e muitos servem para que os médicos e enfermeiros portugueses deem formação aos colegas guineenses.
O braço solidário português chegou também às escolas, onde foram entregues materiais didáticos angariados em Portugal. Escolas da região de Mansôa, de onde é natural José Manuel In-Bua, o médico guineense que trabalha em Aveiro e que esteve na base destas missões. É In-Bua, através da sua Fundação, que sustenta o ensino do lugar que o viu nascer.
Mais interessados
Foram 16 mas podiam ter ido o dobro ou o triplo. "Todos os dias recebemos contactos de pessoas, de várias áreas da saúde, que estão interessados", diz José Sousa. O problema, acrescenta, "é a operacionalidade em Bissau, que tornaria ineficaz o aumento da comitiva".
50 mil angariados
A missão conseguiu angariar cerca de 25 mil euros (outro tanto foi conseguido em material) para a compra de medicamentos, viagens, hotel e outras despesas, como alimentos para os médicos guineenses que nada comem no hospital. Os doentes são alimentados pelos familiares, que acampam à porta, onde cozinham.